Processo TO - 14 de Janeiro, 2025
#340 |Artigo| Intervenções Baseadas em Ocupação para Melhorar o Desempenho Ocupacional e a Participação no Ambiente Hospitalar: Revisão Sistemática
1
OTbrain
@otbrain
Intervenções Baseadas em Ocupação para Melhorar o Desempenho Ocupacional e a Participação no Ambiente Hospitalar: Revisão Sistemática
- Citação: Wall, G., Isbel, S., Gustafsson, L., & Pearce, C. (2024). Occupation-based interventions to improve occupational performance and participation in the hospital setting: A systematic review. Disability and Rehabilitation, 46(13), 2747–2768. https://doi.org/10.1080/09638288.2023.2236021
Resumo
- O objetivo deste estudo foi rever criticamente as evidências sobre intervenções baseadas em ocupação para melhorar os resultados de desempenho ocupacional e participação em ambientes hospitalares. Para isso, os autores pesquisaram cinco bases de dados no período de 2000 a 2022. Foram incluídos estudos revistos por pares, de qualquer desenho metodológico, que investigassem o impacto dessas intervenções no ambiente hospitalar. A qualidade metodológica foi avaliada com ferramentas apropriadas para cada tipo de estudo, e uma síntese narrativa foi conduzida após a extração dos dados.
- Os resultados incluíram 33 estudos que envolveram um total de 1646 participantes. A revisão identificou boas evidências para suportar o uso de intervenções baseadas em ocupação como meio para melhorar o desempenho ocupacional e a participação no ambiente hospitalar, principalmente em reabilitação em regime de internamento. Contudo, não foi possível determinar se estas intervenções são mais eficazes do que outras abordagens ou intervenções alternativas.
- A investigação em contextos hospitalares de fase aguda e de saúde mental revelou-se limitada, com poucos estudos disponíveis. Apesar disso, resultados qualitativos destacaram benefícios importantes, como o aumento da independência e confiança dos pacientes para o momento da alta hospitalar, maior motivação para a terapia, fortalecimento das conexões sociais e oportunidades de aprendizagem em grupo.
- As conclusões apontam que as intervenções baseadas em ocupação são valorizadas tanto por pacientes quanto por terapeutas ocupacionais, devido aos seus impactos positivos nos resultados clínicos e na experiência geral do paciente. No entanto, as fraquezas metodológicas e a heterogeneidade dos estudos analisados limitam as conclusões que podem ser tiradas. Dessa forma, os autores reforçam a necessidade de estudos mais rigorosos, com descrições detalhadas das intervenções e o uso de medidas mais robustas de avaliação do desempenho ocupacional.
Principais Resultados
- Os resultados deste estudo destacam várias áreas de impacto das intervenções baseadas em ocupação no ambiente hospitalar, com diferenças de eficácia entre contextos específicos, como a reabilitação em regime de internamento, a fase aguda do tratamento e o ambiente de saúde mental.
- Na reabilitação hospitalar em regime de internamento, as intervenções baseadas em ocupação foram amplamente reconhecidas como eficazes para melhorar o desempenho ocupacional e a participação dos pacientes em atividades diárias significativas. Os exemplos incluem treinos de autocuidado, como vestir-se, tomar banho e alimentar-se, realizados de forma a simular o ambiente doméstico. Essas intervenções ajudaram os pacientes a recuperar a independência funcional, aumentando a sua confiança para enfrentar a alta hospitalar e regressar à vida em casa. Além disso, estas práticas muitas vezes envolveram o uso de tecnologias assistidas e adaptações do ambiente, o que reforçou ainda mais os resultados positivos.
- Nos contextos hospitalares de fase aguda, como unidades de cuidados intensivos, as evidências foram mais limitadas. As intervenções baseadas em ocupação neste cenário ainda não são amplamente aplicadas, e a investigação disponível sugere desafios relacionados à instabilidade clínica dos pacientes e à natureza breve das estadias hospitalares. Contudo, os poucos estudos realizados mostram que essas intervenções podem ajudar a manter ou melhorar aspetos como a motivação e o bem-estar emocional dos pacientes. A integração de tarefas significativas em atividades terapêuticas, mesmo em curtos períodos, demonstrou potencial para aumentar a colaboração do paciente e reduzir o impacto negativo da hospitalização.
- No caso da saúde mental em ambiente hospitalar, as intervenções baseadas em ocupação mostraram-se promissoras, mas subexploradas. Um dos exemplos destacados no estudo foi o uso de grupos de atividades, como a preparação de refeições ou tarefas criativas (exemplo: cozinhar ou fazer artesanato), que foram eficazes para promover interações sociais, criar uma sensação de rotina e aumentar a motivação dos pacientes para o tratamento. Além disso, a participação em grupos revelou-se valiosa para reduzir sentimentos de isolamento, melhorar a confiança social e proporcionar experiências de aprendizagem em comunidade.
- A análise qualitativa dos estudos revelou ainda vários benefícios adicionais das intervenções baseadas em ocupação. Os pacientes relataram um aumento significativo da sua confiança em realizar tarefas do dia a dia, maior independência funcional e um sentido renovado de propósito durante a sua recuperação. A interação em grupos foi descrita como especialmente motivadora, pois permitiu a partilha de experiências entre pares e a aprendizagem colaborativa. Muitos pacientes destacaram que essas intervenções os ajudaram a sentirem-se mais preparados para regressar às suas rotinas, aumentando a motivação para enfrentar os desafios do quotidiano.
- Por outro lado, foi identificado um uso insuficiente de intervenções baseadas em ocupação em cenários como unidades de fase aguda e saúde mental. Os estudos nesses contextos sugerem que a implementação destas intervenções ainda enfrenta barreiras relacionadas à estrutura hospitalar, como tempo limitado, falta de recursos e prioridades concorrentes no tratamento clínico.
Implicações para a prática
- Os resultados deste estudo apresentam implicações significativas para a prática da Terapia Ocupacional, destacando abordagens que podem melhorar o impacto das intervenções baseadas em ocupação no ambiente hospitalar. Aqui estão as principais implicações detalhadas:
- – Integração de intervenções baseadas em ocupação na rotina hospitalar: Estas intervenções devem ser implementadas de forma consistente para ajudar os pacientes a recuperarem competências funcionais e prepará-los para o regresso à sua rotina diária. A utilização de atividades significativas, como vestir-se, alimentar-se ou deslocar-se autonomamente, é fundamental para garantir resultados funcionais e uma maior confiança na alta hospitalar.
- – Personalização das intervenções: Cada intervenção deve ser adaptada às necessidades, preferências e objetivos individuais de cada paciente. Este foco no paciente permite que as atividades propostas sejam mais relevantes, motivadoras e eficazes, resultando numa recuperação mais satisfatória.
- – Promoção de atividades em grupo: Intervenções de grupo, como cozinhar, realizar tarefas domésticas ou envolver-se em atividades criativas, devem ser incentivadas para promover interação social, aprendizagem colaborativa e apoio emocional. Estas práticas são particularmente eficazes para reduzir o isolamento e fortalecer a motivação dos pacientes.
- – Foco em contextos menos explorados: Existe uma necessidade urgente de implementar intervenções baseadas em ocupação em ambientes hospitalares de fase aguda e saúde mental. Nestes contextos, as intervenções podem ser ajustadas para melhorar a motivação, o bem-estar emocional e a estrutura diária dos pacientes, mesmo durante estadias hospitalares curtas.
- – Colaboração interdisciplinar: Os terapeutas ocupacionais devem trabalhar em conjunto com outros profissionais de saúde, integrando as intervenções baseadas em ocupação em planos de cuidado multidisciplinares. Essa colaboração pode facilitar a adoção de abordagens centradas no paciente e aumentar a eficácia geral dos tratamentos.
- – Formação contínua para terapeutas ocupacionais: É essencial investir na formação de terapeutas ocupacionais, especialmente em áreas como saúde mental e cuidados de fase aguda, para melhorar a implementação de intervenções baseadas em ocupação. Além disso, sensibilizar toda a equipa hospitalar sobre os benefícios dessas intervenções pode facilitar a sua aceitação e integração na prática clínica.
- – Avaliação e monitorização de intervenções: Ferramentas padronizadas e robustas devem ser utilizadas para avaliar os resultados das intervenções, assegurando que a melhoria no desempenho ocupacional e na participação dos pacientes seja adequadamente registada e analisada.
- – Incorporação de tecnologias e adaptações: Tecnologias assistidas e adaptações ambientais devem ser consideradas como parte do planeamento terapêutico, permitindo que os pacientes realizem atividades de forma mais independente e funcional.
Limitações
- Os autores do artigo mencionam as seguintes limitações do estudo:
- – Heterogeneidade dos estudos incluídos: Os estudos analisados apresentaram grande diversidade em termos de métodos, populações e contextos, dificultando a generalização dos resultados para outros cenários.
- – Fraquezas metodológicas: Muitas das investigações incluídas não descreveram detalhadamente as intervenções realizadas ou utilizaram medidas de avaliação pouco confiáveis, o que compromete a robustez das conclusões.
- – Foco limitado em contextos específicos: A análise revelou uma escassez de estudos em ambientes hospitalares de fase aguda e de saúde mental, o que limita a compreensão sobre os benefícios dessas intervenções nesses cenários.
- – Dificuldade em isolar os efeitos das intervenções: Em alguns estudos, as intervenções analisadas faziam parte de abordagens multimodais, o que tornou difícil avaliar o impacto exclusivo das intervenções baseadas em ocupação.
Palavras-chave
- Fase aguda; Saúde mental; Reabilitação; Atividades da vida diária; Terapia ocupacional
Língua
- Inglês
- Vê este e outros artigos aqui: Artigos OTbrain