Processo TO - 4 de Novembro, 2024
#94 |Artigo| Reactividade Sensorial nos primeiros dois anos associada com os níveis de autismo em idade pré-escolar
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Reactividade Sensorial nos primeiros dois anos associada com os níveis de autismo em idade pré-escolar
- Citação: Grzadzinski, R., Donovan, K., Truong, K., Nowell, S., Lee, H., Sideris, J., Turner-Brown, L., Baranek, G. T., & Watson, L. R. (2020). Sensory Reactivity at 1 and 2 Years Old is Associated with ASD Severity During the Preschool Years. Journal of Autism and Developmental Disorders, 50(11), 3895–3904. https://doi.org/10.1007/s10803-020-04432-4
Resumo
- As crianças com PEA apresentam frequentemente uma reatividade sensorial atípica nos primeiros anos de vida, antes do diagnóstico. Este estudo teve como objetivo examinar os padrões de reatividade sensorial aos 14 meses, as alterações entre os 14 e os 23 meses e a gravidade posterior da PEA aos 3 e 5 anos de idade em crianças (n=87) com elevada probabilidade de PEA.
- Métodos: Os métodos utilizados neste estudo incluíram a observação e avaliação da reatividade sensorial em crianças de 1 e 2 anos, que foram seguidas até à idade pré-escolar para medir a gravidade dos sintomas de PEA. Para avaliar as respostas sensoriais precoces, foi utilizado o Sensory Experiences Questionnaire (SEQ), enquanto a gravidade dos sintomas de PEA na idade pré-escolar foi avaliada com o Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS). As análises estatísticas incluíram correlações e regressões, permitindo examinar a relação entre a reatividade sensorial inicial e a gravidade dos sintomas de PEA na idade pré-escolar, controlando potenciais variáveis influenciadoras.
- Principais resultados: As crianças que apresentaram hiporreatividade aos 14 meses mostraram dificuldades significativas em competências sociais e de comunicação durante os anos pré-escolares, com maior gravidade nos sintomas de PEA. Além disso, verificou-se que o aumento da hiporreatividade entre os 14 e os 23 meses está associado a um agravamento dos comportamentos sociais, de comunicação e comportamentos repetitivos e restritos (RRB). Estes resultados indicam que uma resposta sensorial reduzida em idades precoces pode estar relacionada a um desenvolvimento mais severo dos sintomas de PEA, sugerindo que a hiporreatividade precoce é um potencial sinal de alerta. Em contrapartida, a hiperreatividade relatada pelos pais aos 14 meses foi associada a uma maior gravidade nos comportamentos repetitivos e restritos aos 3-5 anos, embora a hiperreatividade observada diretamente aos 14 meses não tenha mostrado uma relação significativa com a gravidade dos sintomas da PEA. Isto sugere que a observação dos pais pode ser um recurso importante na identificação precoce de padrões sensoriais que influenciam os comportamentos restritivos.Por outro lado, a procura sensorial precoce, ou o desejo de intensificar experiências sensoriais, não apresentou uma associação significativa com a gravidade dos sintomas de PEA, embora mudanças nesses comportamentos entre os 14 e os 23 meses possam estar ligeiramente relacionadas a desafios nas competências sociais. No entanto, essa relação não alcançou significância estatística.
- Conclusões: O estudo sugere que padrões de hiporreatividade observados cedo (aos 14 meses) e aumentos nesta resposta entre 14 e 23 meses podem ser indicadores de uma gravidade maior dos sintomas da PEA nos anos pré-escolares. A hiperreatividade relatada pelos pais também pode ser uma pista importante, especialmente para comportamentos repetitivos e restritos. Estes achados destacam a importância de considerar a reatividade sensorial precoce como um possível sinal de alerta para sintomas de PEA mais graves no futuro.
Implicações para a prática
- Identificação Precoce de Risco para PEA
- – A observação de padrões de hiporreatividade e hiperreatividade aos 14 meses pode ser um indicador precoce do risco de PEA. Para os terapeutas ocupacionais, isso significa que uma avaliação sensorial precoce pode ajudar a identificar crianças que estão em risco de desenvolver sintomas mais graves de PEA, permitindo uma intervenção antecipada.
- – Avaliações padronizadas de reatividade sensorial, como as utilizadas no estudo, podem ser incorporadas nas práticas de avaliação dos terapeutas ocupacionais para identificar precocemente crianças com dificuldades sensoriais que possam influenciar o seu desenvolvimento.
- Foco em Intervenções Precoces para Melhorar Resultados Futuros
- – O estudo sugere que intervenções precoces focadas em questões sensoriais podem ter um impacto significativo na redução da gravidade dos sintomas de PEA ao longo do tempo. Para os terapeutas ocupacionais, isso reforça a importância de intervenções sensoriais durante os primeiros anos de vida.
- – Programas de intervenção precoce que envolvem pais e cuidadores, capacitando-os para lidar com questões de hiporreatividade e hiperreatividade, podem melhorar a resposta da criança ao ambiente e às interações sociais, reduzindo o impacto futuro da PEA.
- Parceria com Pais e Cuidadores
- – O estudo destaca que os pais podem relatar a hiperreatividade de forma diferente dos profissionais, o que sugere a necessidade de um trabalho colaborativo. Os terapeutas ocupacionais podem fornecer orientações específicas para pais sobre como observar e responder a padrões sensoriais atípicos, usando ferramentas práticas para o ambiente doméstico.
- – Educar pais e cuidadores sobre as diferentes respostas sensoriais e como estas podem afetar o comportamento e a comunicação da criança é fundamental para garantir que as estratégias de intervenção também sejam implementadas no contexto familiar.
- Importância da Avaliação Sensorial na Prática Clínica
- – A terapia ocupacional já reconhece a importância da avaliação sensorial, e este estudo reforça a necessidade de integrar uma avaliação sensorial detalhada como parte do processo de diagnóstico e tratamento da PEA.
- – A utilização de instrumentos de avaliação direta e questionários parentais pode fornecer uma imagem completa das dificuldades sensoriais da criança, informando melhor as estratégias de intervenção.
Limitações
- O estudo sobre a associação entre a reatividade sensorial precoce e a gravidade da PEA apresenta várias limitações importantes, que devem ser consideradas ao interpretar os resultados:
- Tamanho da Amostra e Dados Ausentes
- – O estudo teve um número relativamente pequeno de participantes (87 crianças inicialmente) e houve uma grande perda de participantes ao longo do tempo, especialmente no seguimento realizado entre os 3 e 5 anos. Isso limita a capacidade de generalizar os resultados.
- – A ausência de dados no seguimento foi compensada por técnicas de imputação múltipla, mas isso pode introduzir incertezas nas conclusões finais, uma vez que os resultados são baseados em dados estimados e não observados diretamente.
- Composição da Amostra
- – A maioria das famílias participantes eram de origem caucasiana e com um nível educacional elevado. Isso limita a diversidade da amostra e pode reduzir a aplicabilidade dos resultados a populações mais diversas, que podem ter diferentes experiências culturais, socioeconómicas e de resposta a intervenções.
- – As crianças que não retornaram para o seguimento eram mais propensas a pertencer a grupos raciais minoritários e a ter pais com níveis educacionais mais baixos, o que pode introduzir um viés nos resultados.
- Intervalo de Idade no Seguimento
- – O estudo avaliou a gravidade da PEA entre os 3 e 5 anos, um intervalo de idade relativamente amplo. Embora tenham ajustado as análises para a idade, a variação na idade do seguimento pode afetar a precisão dos resultados, uma vez que os sintomas de PEA podem evoluir significativamente nesse período.
- Métodos de Avaliação Diferentes (Observação vs. Relato Parental)
- – O estudo utilizou tanto avaliações diretas (observações profissionais) quanto relatos parentais para medir a reatividade sensorial, e houve diferenças nas associações encontradas entre esses dois métodos. Isso sugere que diferentes métodos de avaliação podem capturar aspetos distintos da reatividade sensorial, mas também pode indicar que um dos métodos é menos preciso. Por exemplo, os pais podem ter dificuldades em reconhecer hiporreatividade (respostas reduzidas a estímulos), enquanto podem ser mais sensíveis à hiperreatividade (respostas exageradas a estímulos). Essa discrepância pode limitar a interpretação dos dados, especialmente quando se depende exclusivamente do relato parental.
- Ausência de Análise de Subtipos de PEA
- – O estudo focou-se na gravidade geral dos sintomas da PEA, sem explorar a possibilidade de diferentes subtipos de PEA ou perfis específicos de sintomas. A falta de análise de subtipos pode limitar a compreensão sobre como diferentes padrões sensoriais estão associados a diferentes tipos de manifestações de PEA.
Palavras-chave:
- Autismo; Perturbação do Espectro do Autismo; Sensorial; Criança; Severidade
Língua:
- Ingles
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